sexta-feira, 15 de março de 2013

Bastinho Calixto: compositor de mais de 400 músicas luta para se aposentar

Bastinho Calixto: compositor de mais de 400 músicas luta para se aposentarBastinho Calixto: da glória a decadência, compositor de mais de 400 músicas luta para se aposentar 

Da glória, a decadência financeira, passando pelo esquecimento, o abandono dos amigos famosos até chegar ao fundo do poço. A vida entre as gravadoras, os estúdios e as viagens há muito tempo ficou para trás. Restaram apenas as lembranças da época em que era conhecido como o galã da música nordestina. Tinha carro próprio, motorista a disposição, fama, amigos e um talento particular para fazer música. Aliás, o valor de sua contribuição a cultura nordestina é inestimável.


Sentado em uma cadeira de rodas falando com dificuldade devido a um AVC – Acidente Vascular Cerebral – que sofreu o cantor e compositor Sebastião Tavares Calixto se esforça para lembrar dos tempos áureos de sua carreira artística. A casa onde ele reside na rua Severino Valeriano de Oliveira, 309 conjunto João Agripino, em Campina Grande é simples. Apenas um sofá já gasto, um rádio gravador preto também usado, e uma pequena estande de madeira onde estão guardados dezenas de Cds e discos de vinil de artistas regionais e de renomes do cenário nacional que um dia gravaram músicas do compositor paraibano.


A situação do artista é dramática. Abandonado pelos amigos, inclusive por artistas que ele ajudou a se tornar famoso, Bastinho Calixto se isolou em sua solidão. Aos 62 anos, mora sozinho em sua casa. Três dos quatro filhos moram no Rio de Janeiro. Apenas uma filha reside em Campina e visita o artista todos os dias. A única companheira que passa mais tempo com ele é uma amiga vizinha que reserva parte do dia para pacientemente ajudar nos afazeres domésticos da casa do músico. Quem o vê, não imagina como ele era no tempo em que fazia sucesso. O dinheiro que juntou na época de famoso se acabou.


Paralítico das pernas há 17 anos devido ao sétimo acidente automobilístico que sofreu, Bastinho, que é irmão de Zé Calixto, Luizinho e João Calixto, vive uma realidade bem diferente da época em que era cantor e compositor disputado por grandes artistas da música regional. Hoje ele só anda segurado nas paredes ou nos braços de alguém.


Há oito anos o cantor e compositor nascido no bairro do Monte Castelo em Campina Grande, luta para se aposentar através da Lei Canhoto da Paraíba. A batalha parece não ter fim. Isso porque falta os amigos para ajuda para acelerar o processo. A burocracia obstacula o músico de realizar o desejo. “Tem mais de quatro anos que as pessoas conversam comigo e nunca resolveram”, disse.


Na sala de sua casa, olhando para os Cds, ele revelou que no auge da carreira comprou muitos bens já se programando para o futuro. Só que não contava com os atropelos da vida. O declínio do artista começou depois que ele sofreu uma série de acidentes automobilísticos. Foram sete ao todo, sendo que a último, que o deixou em cima de uma cadeira de roda, aconteceu há 15 anos em São Bento na Paraíba. Em todas as colisões e viradas, ele nunca estava dirigindo visto que tinha motorista próprio.


Bastinho conta que gastou muito dinheiro no tratamento que fez para se recuperar dos ferimentos causados pelos seguidos acidentes que sofreu e que interromperam sua carreira. Além do mais, parte dos bens que juntou, frutos de suas composições, foram “tomados” pela ex-esposa Hermelinda, de quem se separou há 15 anos.


Apesar do abandono e da ingratidão de muitos, Bastinho demonstra ser uma pessoa feliz. Em cima de sua cadeira de rodas, está sempre sorrindo. Não reclama da vida. Quando se locomove de um canto para outro da casa, costuma sorrir. Até para chamar a amiga nas horas de angústia a aflição, mantém a calma, o bom humor e a serenidade de quem não perdeu a fé em Deus e a vontade de viver.

Os traumas da vida parecem não ter lhes afetado. Ele garante que não tem mágoa de ninguém mas só quer se aposentar para quando chegar de vez a velhice não sofrer aperto financeiro.


Composições gravadas por vários artistas


Bastinho começou a carreira tocando zabumba para Luiz Gonzaga e fazendo percussão com Jackson do Pandeiro. Viajou o Brasil inteiro com esses dois astros. Irmão de Zé Calixto, o cantor e compositor foi descoberto no programa Flávio Cavalcante da TV Tupi em 1971 quando gravou seu primeiro LP.


Bastinho que também tocava sanfona, gravou 13 LPs. Casado com Hermelinda, do Trio Mossoró se projetou no cenário nacional como compositor, assistente de produção, diretor artístico de praticamente todas as grandes gravadoras do país como a Bervely, Copacabana, CBS, Sony Music, Odeon, atual Emil Music, RCA, atual BMG, Continental entre outas. Aliás, ocupou um dos cargos mais importantes na antiga gravadora CBS.


Com dom especial compôs 1.200 músicas sendo que destas, pouco mais de 750 foram gravadas por vários cantores do cenário regional e nacional. Como compositor, suas músicas gravadas por nomes como Elba Ramalho, Alcymar Monteiro, Dominguinhos, Trio Nordestino, Flávio José, Tim Maia entre outros. Produziu vários artistas como “Os Três do Nordeste”, João Gonçalves, Marinês e sua Gente. “Flávio José gravou três músicas minhas”, afirmou.


Entre os sucessos de Bastinho Calixto, estão “Vou Bater Bum Bum”, e “Pimenta no Salão” sucessos de Flávio José, e “Toque de Fole”, interpretada por Elba Ramalho e pelos Os Três do Nordeste.

Batinho sobrevive de autoral e ainda compõe


Os sete acidentes que sofreu não afetou o cérebro de Bastinho Calixto. Mesmo debilitado devido o AVC, o artista ainda compõe músicas de forró. No ano passado a cantora Elba Ramalho gravou uma das recentes canções de autoria de Bastinho.

O compositor garante que os desastres automobilísticos afetaram apenas as suas pernas. “Eu continuo compondo. Graças a Deus não falta inspiração”, brinca.


As composições aliás, tem sido por enquanto, a salvação financeira do artista. Ele conta depois que parou de andar só lhe restou como salvação os recursos oriundos do direito autoral. Só que com o advento da pirataria que começou a tomar conta do mercado musical, a situação ficou mais dramática. “Mesmo assim sou feliz, continuo compondo e sonhando”, afirmou numa grande lição de vida.


Severino Lopes

PBAgora