Um milagre. Foi assim que o vocalista da banda Raça Negra, Luiz Carlos,
definiu o fato de nenhum dos 23 integrantes do grupo estar correndo
risco de morte após o acidente com o ônibus em que estavam, ocorrido na
madrugada desta segunda-feira (20), na BR-101, em Pernambuco. "Graças a
Deus que não houve morte nenhuma. A gente estava assistindo a reportagem
hoje pela manhã, eu mesmo me assustei de ver como o ônibus ficou e a
gente sair vivo dali. Eu não sei como é que foi [possível]", afirmou, em
entrevista à TV Globo, após visitar alguns dos integrantes da banda que
estão internados no Hospital Miguel Arrraes (HMA), em Paulista, no
Grande Recife.
Após tombar na rodovia, o ônibus foi atingido na traseira por uma
carreta, que não conseguiu desviar ou frear. A colisão foi leve, mas
empurrou o ônibus alguns metros mais à frente. Não há informações sobre o
motorista que dirigia esse caminhão.
Além das 23 pessoas da equipe do Raça Negra, um trompetista que era da
banda de Reginaldo Rossi e o motorista estavam no veículo. Três
integrantes do grupo estão em estado mais preocupante: um com as duas
pernas quebradas, outro com afundamento do rosto e um terceiro está com
um corte na cabeça. Segundo o Corpo de Bombeiros, todos precisaram de
algum tipo de atendimento no local do acidente, mas as unidades de saúde
ainda não confirmaram quantas pessoas envolvidas na colisão
efetivamente foram atendidas por suas equipes.
Cochilo ou susto
A única explicação que Luiz Carlos consegue encontrar para o acidente
foi o motorista ter cochilado ou se assustado com algo na pista. "Eu não
vi motivo nenhum para o ônibus balançar. Ou ele acordou, ou cochilou,
não sei, porque ele está acostumado a trabalhar com isso. [...]
Infelizmente, não era o nosso [ônibus]. Os meus motoristas não vão para o
show, eles ficam dormindo", explica. O veículo em que o grupo viajava
era alugado, de turismo.
Em 30 anos de carreira, essa foi a primeira vez que a banda sofreu um
acidente como esse, explica Luiz Carlos, que estava acordado no momento
do choque. "Eu geralmente durmo pouco, estou acostumado a fazer show de
madrugada. Vi o ônibus balançando, balançando, e o cara perder o
controle, como se ele tivesse tomado um susto. Olhei para fora e não
estava chovendo, estava em linha reta, ainda ia entrar na curva. Quando
ele fez a curva, o ônibus se perdeu todo, chegou a virar. Veio virando,
até capotar de vez", recorda o vocalista.
Ônibus que trazia a banda Raça Negra para o Recife tombou na BR-101 (Foto: Walter Paparazzo/G1) |
Outro dos integrantes da banda, Alex, foi levado para a sala vermelha do
HMA, devido a um corte profundo, segundo Luiz Carlos. Outro sofreu
afundamento das pernas e, por isso, foi encaminhado para cirurgia. "O
menino do sax, Marcos, abriu o rosto, vai ter que suturar e uma série de
coisas, mas graças a Deus não corre risco de vida", tranquiliza Luiz
Carlos.
A backing vocal Gina Garcia estava dormindo na hora do acidente. Acordou
assustada, com o tecladista da banda caído por cima dela "Eu ouvi o
'quicar dos pneus' no chão. Acordei meia tonta e já vi o ônibus tombado.
Ouvi o deslizar do ônibus, porque a carreta bateu. Eu estava no lado
direito, que foi o lado que o ônibus tombou", recorda.
Mãe de um rapaz de 19 anos, Gina explica que ainda está nervosa, mas
agradece a Deus por algo pior não ter acontecido. "Em cinco segundos,
passa um filme da sua vida na sua cabeça, sua família... Eu só fazia
agradecer a Deus por ter livrado a gente de que aquela carreta entrasse
no nosso ônibus. Se isso tivesse acontecido, talvez não estivéssemos
aqui conversando", afirma.
Para os fãs, a mensagem do vocalista Luiz Carlos é de cuidado redobrado
ao pegar no volante para viajar. "A gente está bem. Sempre costumamos
olhar e criticar os outros, mas a estrada é uma armadilha. Você tem que
tomar cuidado quando pega seus filhos, sua esposa, quando vai para trás
de um volante. Tem que estar muito bem descansado, muito bem alimentado,
é um monte de detalhe que a gente não liga. A gente vai lá, calibra o
pneu, bota oléo, água, mas o cara está há três dias sem dormir", alerta.
O grupo de pagode vinha de um show em Natal e embarcaria do Recife para
Salvador, de avião. A viagem para a capital baiana foi cancelada e os
integrantes que já receberam alta podem voltar para São Paulo ainda
nesta segunda.
O acidente
O ônibus tombou na BR-101, próximo à cidade de Goiana, Mata Norte de
Pernambuco. Seis dos músicos foram encaminhados ao Hospital Miguel
Arraes, em Paulista, também no Grande Recife.
Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Igarassu, na região
metropolitana do Recife, outros seis passageiros do ônibus foram
atendidos, entre eles o vocalista do Raça Negra, Luiz Carlos, que sofreu
uma torção no braço direito. Com quadro estável, todos esses pacientes
já receberam alta, segundo um enfermeiro da UPA que não quis ser
identificado.
Na manhã desta segunda-feira, o ônibus estava no acostamento e o trânsito na BR-101 fluía normalmente, segundo a PRF.
Outra colisão
Por volta das 7h30 desta segunda, no mesmo local do acidente, um
vazamento de óleo provocado pelo ônibus da banda deixou a pista molhada e
escorregadia, fazendo com que o motorista de um caminhão perdesse o
controle do veículo e batesse em um carro de passeio, que foi parar na
vala do acostamento.
O caminhão continuou desgovernado e atingiu um táxi, que também terminou no acostamento.
O Samu foi chamado para prestar socorro, e a PRF chegou para organizar o
trânsito. Pela manhã, o caminhão continuava atravessado na pista.
G1